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Livro: Kindred, Laços de Sangue
 Autor (a): Octavia E. Butler
Editora: Morro Branco / Gênero: Ficção / Drama
Páginas: 432 / Ano: 2017
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        Oi pessoas! Tudo bom? Olha a mega novidade na resenha de hoje: o livro Kindred, Laços de Sangue de Octavia E. Butler, publicado finalmente no Brasil pela editora Morro Branco, que na minha opinião fez um feito incrível ao traduzir essa obra emblemática. Afinal, o Brasil foi o último país na América a abolir a escravidão. Nosso passado é bastante sombrio e uma obra como Kindred deveria já ter figurado por aqui, para que o tema fosse debatido em escolas e rodas de conversa.
        Vamos começar conhecendo um pouquinho da história da autora? Octavia E. Butler (1947 a 2006) é mundialmente conhecida por suas obras de ficção, sendo Kindred a mais conhecida delas. Fez muito barulho em sua época, já que foi a primeira mulher (e negra) a fazer sucesso com livros de ficção, meio dominado prioritariamente por homens. Podemos dizer que Octavia foi extremamente importante para que barreiras fossem quebradas e seu sucesso se deve muito a sua força de vontade e desejo de fazer a diferença. Ao final deste livro publicado pela Morro Branco inclusive encontramos uma carta da autora motivacional. Sabe aquelas cartas de final de ano que escrevemos com nossas intenções para o futuro que vai começar? É mais ou menos isso que a autora escreveu, uma carta para si, motivacional, dizendo que ela iria se tornar uma autora Best-Seller e que ajudaria muitas pessoas pobres e negras com o dinheiro que ainda ganharia em sua vida. Kindred, um dos seus livros mais traduzidos foi escrito em 1979 e é muito utilizado em estudos nos Estados Unidos, pois levanta a temática escravidão.
        Kindred é basicamente uma obra de ficção. A gente sabe que viagens no tempo não são reais (ainda né? Quem sabe um dia! Haha). E nossa protagonista é uma viajante do tempo. Dana e Franklin vivem suas vidas normalmente, em pleno ano de 1976. Dana é negra e Franklin é branco, mas em 1976 a escravidão já foi abolida há muito tempo e casamentos entre brancos e negros são comuns. Certo dia, Dana misteriosamente sente uma vibração (se sente tonta). Seu marido Franklin percebe também uma áurea estranha ao redor e de repente Dana simplesmente some. Some por três minutos e retorna. Dana foi transportada para o ano de 1819, em Maryland, uma época terrível para se voltar no tempo, se você é negro. Ela cai de repente perto de um lago e vê um garotinho se afogando. Apesar de não entender o que está acontecendo, Dana o salva e ao chegar sua mãe, Dana percebe que está com problemas. Porque ela é quase morta, por ter se aproximado de uma criança branca. E o susto da morte eminente a tele transporta para o tempo real novamente.
       Viver três a quatro horas no passado equivale a poucos minutos em seu tempo presente, então quando Dana começa a explicar ao seu esposo o que aconteceu, tudo parece muito absurdo. Até que acontece novamente e Dana parece compreender o que a leva de volta ao passado. Todas as vezes que esse garoto chamado Rufus se mete em perigo a ponto de quase morrer, Dana volta para protegê-lo.





        Em uma das voltas, Dana leva Franklin junto o que ela espera que melhore sua estadia no passado, já que tem um branco ao seu lado para protegê-la. Mas as pessoas não entendem a relação de Dana com Franklin e a sobrevivência dos dois fica extremamente difícil. Dana é negra, e é colocada a trabalhar como escrava. E passa a viver dias terríveis sobre opressão de chicotes, castigos, cães que são postos a correr atrás de escravos fugitivos e hematomas constantes. O que a faz voltar no seu tempo é ter a vida também em perigo e o que a faz voltar ao passado é a vida de Rufus estar em perigo. Não é tão fácil se colocar em risco de vida quanto parece (para que possa voltar ao presente) e o medo passa a ser constante na vida de Dana. Descobrir que Rufus é seu antepassado direto traz uma luz talvez a essas viagens estranhas ao passado. Dana precisa garantir que Rufus fique bem, para que sua vida seja possível no futuro. Mas ser negra no período da escravidão é mais doloroso do que Dana podia imaginar. Os livros de história não a prepararam para as adversidades que precisará passar.
A possibilidade de encontrar um adulto branco me assustava mais do que a possibilidade de enfrentar a violência humana da minha época. 
        Esse livro foi extremamente comovente. Há muitos sentimentos borbulhando em mim após a leitura: tristeza, indignação, lamento. A história da humanidade foi marcada por muitas atrocidades, mas para mim as mais dolorosas com certeza são as relações de escravidão e o holocausto. Acredito que ambas sejam iguais em crueldade. Eu não consigo conceber as pessoas serem inferiorizadas por conta da cor de pele. Isso é um absurdo enorme na minha cabeça. Como se criou esse parâmetro? Quem decidiu que pessoas negras seriam renegadas a trabalhar para os brancos sem remuneração nenhuma e pior, sendo constantemente tratadas como animais? As situações pelas quais Dana passou no livro foram brilhantemente retratadas e acredito fielmente que no passado deveria acontecer exatamente como fora exposto pela autora. O que torna mais pesada e densa a leitura. É tão real que machuca muito quando a lemos. Senti vontade que tudo não passasse de uma ficção, mas esse livro é tão real que vai deixar marcas profundas em quem o ler. É triste, é comovente. E conforme vamos acompanhando as vidas tanto no presente como no passado de Dana, percebemos pasmos que mesmo estando em uma época brutal, Dana começa a se encaixar. Os seres humanos se encaixam, se acostumam. E isso é o mais triste. São poucos os que tentam lutar para que seja diferente. Esse livro é um tremendo tapa na cara da sociedade e nos faz abrir os olhos, desejosos que não aconteça novamente esse tipo de situação.
        Um livro que todos deveriam ler, para se comover, para abrir a mente, para enxergar o quão vil é o ser humano. Que o ser humano muitas vezes de humano não tem absolutamente nada. Que podemos ser muito tendenciosos quando se está em jogo poder e dinheiro.
Alguns de seus vizinhos descobriram o que eu estava fazendo e deram a ele conselhos paternais. Era perigoso educar escravos, eles alertaram. Os estudos deixavam os pretos insatisfeitos com a escravidão. E os estragava para o trabalho no campo. O ministro metodista dizia que os estudos os deixavam desobedientes, fazia com que desejassem ter mais do que o Senhor pretendia que tivessem. Outro homem disse que dar aulas aos escravos era ilegal. 
        Outro elemento muito evidente é a informação negada aos negros por seus patrões. Em muitos trechos vemos Dana tentando ensinar leitura aos negros e ser repreendida pelo seu patrão. Quem lê abre a mente e nenhum patrão quer ver negro pensando sozinho. E não é isso que nosso governo retrógrado atual prega? Educação mínima, fragilizada, fragmentada. Para criar brasileiros cada vez mais ingênuos e fáceis de enganar. É triste, muito triste. As constatações que temos depois de ler esse livro são muitas. Foi sem dúvida uma das leituras mais pesadas do ano, e fiquei estarrecida após cada virar de página. Uma leitura cruel e envolvente, que vai te fazer torcer por Dana, que vai te fazer chorar e lamentar o passado de nossa história e se sentir envergonhado pelo o que a “humanidade” fez. E não podemos fechar os olhos ao final desta leitura. Quanto ainda se vive escravidões das mais diversas nos dias atuais? Há muito, muito trabalho escravo presente nesse mundo afora, o que é de se lamentar, mas não apenas. É preciso unir forças para que isso acabe. Um meio que utilizo muito é antes pesquisar se uma determinada empresa tem ainda trabalho escravo nos dias atuais. A internet é uma ferramenta que deve ser aliada neste processo. Temos meios hoje em dia de saber com mais facilidade e burlar estas empresas é um caminho.
        Termino relatando que Kindred, laços de sangue é um livro obrigatório, para se refletir e conhecer finalmente essa autora de sucesso que quebrou vários paradigmas e agora tem um lugar de espaço aqui no Brasil. Recomendado mil vezes.

        Aproveitando, sobre a edição da editora Morro Branco, a editora lançou duas versões deste livro – uma mais em conta, em brochura e uma edição de luxo em capa dura. Isso porque a autora fazia questão de que seu livro fosse lido por todos e que tivesse um preço acessível para que alcançasse o maior número de pessoas possíveis. A edição está linda e a capa com um trabalho gráfico magnífico. 
Capas do livro pelo mundo:



O livro apresenta como tema central a escravidão:
A escravidão, também conhecida como escravismo ou escravatura, foi a forma de relação social de produção adotada, de uma forma geral, no Brasil desde o período colonial até pouco antes do final do Império. A escravidão no Brasil é marcada principalmente pela exploração de mão de obra de negros trazidos da África e transformados em escravos no Brasil pelos europeus colonizadores do país (retirado da Wikipédia). 

Sinopse:
MAIS DE MEIO MILHÃO DE CÓPIAS VENDIDAS NO MUNDO.


Em seu vigésimo sexto aniversário, Dana e seu marido estão de mudança para um novo apartamento. Em meio a pilhas de livros e caixas abertas, ela começa a se sentir tonta e cai de joelhos, nauseada. Então, o mundo se despedaça.



Dana repentinamente se encontra à beira de uma floresta, próxima a um rio. Uma criança está se afogando e ela corre para salvá-la. Mas, assim que arrasta o menino para fora da água, vê-se diante do cano de uma antiga espingarda. Em um piscar de olhos, ela está de volta a seu novo apartamento, completamente encharcada. É a experiência mais aterrorizante de sua vida... até acontecer de novo. E de novo.



Quanto mais tempo passa no século XIX, numa Maryland pré-Guerra Civil – um lugar perigoso para uma mulher negra –, mais consciente Dana fica de que sua vida pode acabar antes mesmo de ter começado.



“Impossível terminar de ler Kindred sem se sentir mudado. É uma obra de arte dilaceradora, com muito a dizer sobre o amor, o ódio, a escravidão e os dilemas raciais, ontem e hoje” – Los Angeles Herald-Examiner

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