Editora: Companhia das Letras / Gênero: Ficção
Páginas: 344 / Ano: 2016
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Assim que atingirem a idade adulta, e depois de cumprido um período como cuidadores, todos terão o mesmo destino - doar seus órgãos até "concluir". Embora à primeira vista pareça pertencer ao terreno da ficção científica, o livro de Ishiguro lança mão desses "doadores", em tudo e por tudo idênticos a nós, para falar da existência. Pela voz ingênua e contida de Kathy, somos conduzidos até o terreno pantanoso da solidão e da desilusão onde, vez por outra, nos sentimos prestes a atolar.
Oi
pessoal, tudo bem? Hoje o livro que trago para resenha aqui no blog, foi
ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2017 – Não me abandone jamais, de
Kazuo Ishiguro, publicado pela editora Companhia das Letras. A edição está lindíssima,
a borda das páginas tem uma cor prateada brilhante e a capa é muito instigante,
para mim claramente carregando um teor de mistério (mistério este que vai
envolver o leitor durante toda a leitura da narrativa).
Esse
foi o meu primeiro contato com um livro do Kazuo. Ainda não tinha lido nada
dele, e receber este livro da editora Companhia das Letras foi o pretexto
perfeito para conhecê-lo. Confesso que quase desisti da leitura. Eu já tinha
percorrido umas boas 60 páginas e ainda não tinha me envolvido com os
personagens. Talvez por não estar familiarizada, achei a escrita de Kazuo
morosa e lenta, apesar de ser um livro muito bem escrito. Resolvi fechar o
livro, convicta de que não o pegaria mais. Fechei, mas ainda deixei ele em cima
da mesa, visível. Pensei: “Poxa, um livro que ganhou o Nobel, não é possível
que ele não esteja me prendendo. Eu preciso continuar, preciso ir com isso até
o fim para tirar uma conclusão”. Então peguei ele novamente e não parei até
chegar a última página.
Não
vou ser hipócrita aqui e dizer que foi o livro que mais amei na vida. Mas
depois que eu insisti, percebi a beleza sutil nas linhas, o mistério que
envolve o leitor até as últimas páginas, a aflição pela descoberta dos
personagens do que realmente eram suas vidas e isso me prendeu mais na leitura.
O
livro traz três personagens principais – Kathy, Tommy e Ruth, mas é narrado
apenas sob a perspectiva de Kathy, em primeira pessoa. Os três são amigos desde
a infância e vivem suas vidas dentro de um colégio chamado Hailsham. Eles não
têm pais. Têm apenas guardiões que servem também como professores, e não vivem
outra vida a não ser aquela apresentada ali, em Hailsham. Eles não são “prisioneiros”
por assim dizer, mas parecem não questionar o rumo que suas vidas levam.
O
autor vai desenrolando os fatos muito devagar, criando uma áurea de mistério enorme
em relação ao que é esse colégio, o que realmente as crianças que estudam nele
são e para quê servirão. Esse mistério foi o que me deixou mais presa a
narrativa, porque eu ficava aflita a cada virar de página, querendo entender
mais o que estava acontecendo, que rumo tomaria a narrativa.
Os
personagens serem demasiadamente ingênuos também me deixou angustiada. Eu
sentia vontade de sacudi-los, de abrir seus olhos, mostrar que não precisava
ser assim, mas acredito que o autor criou essa tensão de propósito, para deixar
o leitor se questionando das atrocidades que a humanidade é capaz de realizar
em benefício próprio.
Kathy
é uma personagem sensível e forte, apesar de ser pouco questionadora. Ela me
deixava com vontade de gritar, de lutar por ela, de abraçá-la. Tommy também foi
um outro personagem pelo qual me apaixonei e Ruth, apesar de seus problemas,
mostrava talvez o lado mais “humano” dos três.
Não
vou contar muito do enredo para não dar algum spoiler, porque o mistério que
envolve a vida dos três foi o que me motivou a continuar com a leitura. No
final, acabei apreciando bastante a obra, mas não consegui dar cinco estrelas
por conta de não ter me envolvido de imediato, o livro foi me conquistando gradativamente.
Não
tirava da cabeça conforme ia avançando na leitura aquele filme A Ilha (com Ewan McGregor e Scarlett Johansson), achei o enredo
bastante parecido. Depois descobri que tem um filme deste livro mesmo, “Não me
abandone jamais”, e que vou assistir para ver de uma outra perspectiva. Convido
a vocês a conhecerem essa obra, afinal não é para muitos ganhar um prêmio
Nobel, e conhecer Kazuo. Eu não vou desistir desse autor, quero ler mais livros
dele, porque apesar das dificuldades que encontrei no avanço da leitura no
começo do livro, achei que ele escreve muito bem! E a sensibilidade com que é
tratado o tema misterioso principal já vale a leitura como reflexão: para onde
está caminhando verdadeiramente o que chamamos de “humanidade”?
No futuro existe uma entidade
utópica baseada na vida do século XX!, que procura recriá-la nos mínimos
detalhes. Lincoln Six Echo (Ewan McGregor) vive nesta realidade e, como todos
seus residentes, sonha em chegar em um local chamado "a ilha", o
único ponto não contaminado do planeta. Após descobrir que todos os habitantes
são clones, que possuem a única finalidade de fornecer partes de seu corpo para
seres humanos reais, Lincoln decide escapar juntamente com Jordan Two Delta
(Scarlett Johansson).
Ruth (Keira Knightley), Tommy
(Andrew Garfield) e Kathy (Carey Mulligan) cresceram juntos em um internato
cheio de disciplinas rígidas nas questões da alimentação e na manutenção do
corpo saudável. Criados, praticamente, sem contato com o mundo exterior na
misteriosa escola, os três sempre foram muito unidos, mas uma revelação
surpreendente sobre doação de órgãos e o objetivo de suas vidas pode mudar o
rumo da história. Ainda mais pelo clima de romance entre Ruth (Keira) e Tommy
(Andrew) incomodar cada vez mais Kathy (Carey).
Cenas do filme: Não me abandone jamais
Trailer: Não me abandone jamais
Sinopse:
Kathy H. tem 31 anos e está prestes a encerrar sua carreira de "cuidadora". Enquanto isso, ela relembra o tempo que passou em Hailsham, um internato inglês que dá grande ênfase às atividades artísticas e conta, entre várias outras amenidades, com bosques, um lago povoado de marrecos, uma horta e gramados impecavelmente aparados. No entanto esse internato idílico esconde uma terrível verdade: todos os "alunos" de Hailsham são clones, produzidos com a única finalidade de servir de peças de reposição.
Assim que atingirem a idade adulta, e depois de cumprido um período como cuidadores, todos terão o mesmo destino - doar seus órgãos até "concluir". Embora à primeira vista pareça pertencer ao terreno da ficção científica, o livro de Ishiguro lança mão desses "doadores", em tudo e por tudo idênticos a nós, para falar da existência. Pela voz ingênua e contida de Kathy, somos conduzidos até o terreno pantanoso da solidão e da desilusão onde, vez por outra, nos sentimos prestes a atolar.