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Livro: Mudbound - Lágrimas sobre o Misssissippi
 Autor (a): Hillary Jordan
Editora: Arqueiro / Gênero: Drama / Romance Estrangeiro
Páginas: 272 / Ano: 2018
Skoob / Amazon / Submarino

         Lágrimas sobre o Mississipi, de Hillary Jordan conta a história de duas famílias que têm seus destinos cruzados no Mississipi extremamente racista das primeiras décadas do século XX.

         O livro conta, através de capítulos curtos narrados sob os pontos de vista de Laura, Henry e Jamie McAllan e de Ronsel, Florence e Hap Jackson, como as vidas dessas duas famílias se cruzaram e como acabam por marcar para sempre uma a outra. Apesar de descritos por seis personagens diferentes, os capítulos são muito coesos.


         Depois que fez 30 anos, Laura já não mais esperava encontrar alguém com quem construir uma família. Era professora, morava na cidade, e apreciava isso. Quando conheceu Henry, sua vida mudou. De “solteirona na certa”, passou a ser “mimada” pela família, que esperava casá-la com Henry, ao perceberem que ele estava interessado por ela.
         ...Henry me convidou para uma apresentação de O soldado de chocolate no sábado seguinte...As mulheres da minha família uniram forças para me embelezar para a ocasião.
         ...Terminado o longo trabalho, elas ergueram um espelho diante de mim como se me dessem de presente minha imagem refletida. Não me reconheci naquela imagem e disse isso a elas.”

         Logo antes do casamento, ela percebe que a família dele é bem diferente da sua: o sogro era um homem horrível, as cunhadas, detestáveis. O único de quem gostava era Jamie, o cunhado, que parecia enfeitiçar as mulheres ao seu redor. Contudo, o resto da família do futuro marido não era assim tão relevante apesar de ela pouco os suportar.

         Tudo isso muda quando Henry compra uma fazenda no estado do Mississipi sem nada dizer-lhe, e ela, depois de uma tragédia na família de uma das cunhadas, passa a morar na fazenda, onde nem banheiro havia, com o sogro odiável e, posteriormente, o cunhado.

         _Meu bem, por falar nisso...         Imediatamente me preparei para o pior. Vindo de Henry, “por falar nisso” podia levar a qualquer coisa, eu nunca sabia a quê...         _...comprei uma fazenda no Mississipi. Mudamos daqui duas semanas.”

         Quando chegam à fazenda, Henry dispensa alguns dos arrendatários, mas não a família Jackson, uma família negra. Eles não são uma família comum para a época. Hap, o pai, sabe ler, seu filho mais velho o ensinou, e acredita que a roça não é lugar para as mulheres. Florence, a mãe, é uma parteira extremamente dedicada, uma personagem cativante. Ronsel, o filho mais velho, é sargento no exército, e há ainda os gêmeos e a filha mais nova. Henry fica, de certa forma, impressionado com o modo de pensar de Hap. “De certa forma” porque para ele seria natural um homem pensar como Hap, desde que ele não fosse negro.


         Hap continuou me encarando, então ergui as sobrancelhas e ele finalmente baixou os olhos. Ainda bem. Inteligência é sempre muito bom, mas não quero nenhum crioulo atrevido trabalhando para mim.”

         O livro retrata muito bem a segregação racial nos Estados Unidos, demasiadamente marcada no sul do país, como no estado do Mississipi, que fez parte dos Estados Confederados da América, união política que teve origem com seis estados sulistas que eram contra os planos de Lincoln de abolir a escravidão e de adotar o protecionismo alfandegário.

         Nos estados escravistas, até mesmo o matrimônio entre brancos e negros era proibido por lei, e depois da abolição da escravidão, os homens brancos sulistas não queriam dividir os mesmos direitos com os negros, muito menos vê-los alcançarem postos antes só ocupados por brancos.

         Sou fã do canal Investigação Discovery, e em um de seus programas, Crimes que ficaram na história, já vi mais do que uma vez episódios em que contavam algum caso que aconteceu na mesma época em que a história do livro é narrada, e descrevem a segregação no sul dos EUA. Igrejas diferentes para negros e brancos, sala de espera em consultório diferentes para negros e brancos, fora que a justiça para os negros era praticamente inexistente. Se um negro fosse acusado de um crime, já estava condenado. Conseguir provar inocência era praticamente impossível.


         Você deve estar se perguntando o porquê de eu estar mencionando esses fatos. Bom, porque até hoje essa segregação reflete na vida da população americana. É só, por exemplo, nos lembrarmos dos protestos contra a violência policial, principalmente contra os negros, dos movimentos que defendem os direitos da população negra norte-americana e que denunciam as injustiças para com eles, etc., e a autora faz-nos sentir na pele a dor da injustiça, da indiferença, da humilhação que aqueles que se julgam superiores fazem os outros passarem, e estes outros têm que se submeter por estarem onde estão, mesmo depois de terem conhecido o sabor de ser tratado e olhado como um igual quando estava em outro lugar, como no caso de Ronsel quando esteve na Europa.

         Pouco antes de alcançar a porta, quase foi atropelado por Pappy, Orris Stokes e o Dr. Turpin, que entravam na loja.
         _Desculpe – disse tentando contornar os três.         Orris se interpôs no caminho, dizendo:         _O que temos aqui? Um macaco de uniforme!         ... _Este é o filho de Hap e Florence – apresentei, me dirigindo a Henry. _Acabou de chegar do estrangeiro.         _Bem isso explica tudo – disse Pappy.         _Explica o quê? – perguntouRonsel.         _Que você tenha tentado sair pela porta da frente. Devia estar confuso, achando que ainda estava lá nas Europas.         _Não tem confusão nenhuma, não, senhor.         _Acho que tem, sim, senhor – replicou Pappy. – Não sei o que eles deixam vocês fazerem por lá, mas agora você está no Mississipi. Crioulos aqui não usam a porta da frente.         _Seu lugar é lá atrás, rapaz, na porta dos fundos – avisou Orris.         _Acho melhor você ir – disse Henry.

         Pappy, pai de Henry e de Jamie, é um ser asqueroso que só faz pisar em quem quer que esteja perto de si. Sempre que ele apareceu, senti raiva. Foi o único personagem das duas famílias que não me despertou compaixão em momento algum. Sintetiza em si as características já mencionadas, fora que seus amigos são tão repugnantes quanto ele, e serão muito importantes na trama.

         Enfim, apesar de curto o livro é riquíssimo. A marginalização que os negros sofrem é apenas um dos pontos que mais me chamaram atenção, há muito mais neste livro. Há os relatos da guerra, da vida difícil na fazenda que fazem o leitor se imaginar na sujeira, na lida da terra, etc. Há, ao meu ver, história com “h” mesmo sendo contada, e fez-me refletir muito.


       Espero que gostem da leitura. É rápida, marcante, angustiante em muitos momentos, mas vale muito a pena.

         Ah, e por curiosidade, vou deixar o mapa abaixo. É um “mapa do racismo nos EUA segundo as buscas por palavras racistas no país, que incluem a palavra “niger”, considerada o termo mais ofensivo e pejorativo na língua inglesa para se referir à população afrodescendente”. A matéria e o mapa podem ser encontradas no link https://www.revistaforum.com.br/os-lugares-mais-racistas-dos-estados-unidos/ . É de 2015.
Mapa do racismo nos EUA segundo as buscas do Google. Do azul para o vermelho, as cores determinam o número de pesquisas à palavra niger em relação à média (promedio, em espanhol) (Fonte: Notas)

Sinopse:
Um amor proibido, uma traição terrível, uma agressão selvagem. Um romance de força impressionante, que nos faz mergulhar nas contradições do Mississippi pós-Segunda Guerra Mundial.

Ao descobrir que o marido, Henry, acaba de comprar uma fazenda de algodão no Sul dos Estados Unidos, Laura McAllan, uma típica mulher da cidade, compreende que nunca mais será feliz. Apesar disso, ela se esforça para criar as filhas num lugar inóspito, sob os olhos vigilantes e cruéis de seu sogro.

Enquanto os McAllans lutam para fazer prosperar uma terra infértil, dois bravos e condecorados soldados retornam do front e alteram para sempre a dinâmica não só da fazenda, mas da própria cidade. Jamie, o jovem e sedutor irmão de Henry, faz Laura de repente renascer para a vida, enquanto Ronsel, filho dos arrendatários negros que trabalham para Henry, demonstra uma altivez que não será aceita facilmente pelos brancos da região.

De fato, quando os jovens ex-combatentes se tornam amigos, sua improvável relação desperta sentimentos violentos nos habitantes e uma nova e impiedosa batalha tem início na vida de todos.

Alternando a narrativa entre vários pontos de vista, este premiado romance oferece ao leitor diferentes versões dos acontecimentos. Os personagens, lutando por sentimentos de amor e honra num lugar e época brutais, se veem dentro de uma tragédia de enormes proporções e encontram redenção onde menos esperam.


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